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08 setembro 2011

Romi-Isetta tem encontro digno de figura histórica

Aniversário de 55 anos do primeiro veículo produzido no Brasil reuniu fãs e relíquias

Guilber Hidaka
Carreata reuniu 48 Romi-Isettas na cidade natal do primeiro automóvel fabricado no Brasil
E foi dentro de uma Romi-Isetta que conclui esse texto. Exatamente na carreata que saiu do centro de documentação histórica de Santa Barbara d’Oeste em sentido à estação cultural da cidade no último sábado (03), em comemoração aos 55 anos do lançamento do primeiro carro fabricado no Brasil. Eu, dentro da Romi, com o motorista Fernando Henrique (que não é o ex-presidente, como ele mesmo brincou) e muito sol em nossas cabeças, por conta do teto solar.
Antiga sede da fábrica da marca, a cidade inteira parou para ver as 48 Romi-Isettas desfilarem pelas ruas. Todas brilhando de tão limpas e bem cuidadas. A sensação foi a de que éramos famosos. Todos acenavam, crianças corriam para ver os carrinhos, senhores e senhoras se emocionavam. Com muito calor dentro da Romi sem ventilação, consegui entender todo o significado da história que Eugênio Chit havia me contado pouco antes.
Guilber Hidaka
Apenas 3 mil unidades da Romi-Isetta foram produzidas, mas a admiração marca várias gerações
Em 1955, seu pai, Carlos Chit, teve acesso a uma revista italiana na qual um carro chamou sua atenção. Percebeu que havia um mercado para o Brasil além das peças que ele já produzia: poderia também fabricar carros, já que não existia indústria automobilística local. Foi para Itália apenas com a bagagem de mão e voltou com projetos e contratos assinados para a produção de uma versão do modelo Iso Isetta, da BMW. Depois de produzir três mil carros de cinco modelos diferentes, ele comprou o terreno para montar sua fábrica, que teria o apoio da própria BMW. Mas uma crise na marca alemã impediu a junção das marcas e a continuidade da fabricação. Foi o fim do sonho.
Mas foi tempo suficiente para criar uma legião de fãs, que organizaram o evento de aniversário deste ano. Um desses fanáticos é Ary Galafassi, 76 anos, de Salto (SP), que há um ano conseguiu ter seu carro da adolescência de volta. Não exatamente o mesmo modelo, mas um bem parecido.
Guilber Hidaka
Eugênio Chiti, filho do fundador da Romi; Genésio Mercante dedica seu tempo a restaurar os modelos que aparecem em sua oficina; O casal Luis Antônio Mai e Rose, a bordo de sua Romi-Isetta de 1958
Hoje, a maioria das Romis são encontradas como latas velhas e prontamente restauradas. É o trabalho de Genésio Mercante, 47 anos, eletricista automotivo e restaurador na cidade de Santa Bárbara. Atualmente, ele tem cinco Romis em sua oficina e todas participaram da exposição. Depois de restauradas, cada uma delas custa em torno de R$ 45 mil. Mas algum cliente venderia? “É mais fácil nascer cabelo em mim”, apontando sua cabeça, calva. Uma das unidades trabalhadas por ele é a de Luis Antonio Mai, que vem de Santana de Parnaíba até a cidade para ver sua Romi-Isetta, que está na oficina há cinco anos em processo de restauração, devido à dificuldade para achar peças. Seu carro é de 1958 e o carinho vem desde os seus 14 anos, quando sua mãe “barrou” a compra de uma. “Comprei essa porque era um sonho de infância”.
Além de ser conhecida por ter levado a muitos lugares o então presidente Juscelino Kubitschek, a Romi-Isetta também foi um marcante presente para o rei Pelé, por conta de sua performance na copa de 1958. Por algum motivo, esse carro se perdeu e o ex-jogador até tentou achá-la, sem sucesso. Eu também a procurei no encontro, mas ninguém sabia dizer se um daqueles carros era a raridade perdida.
Guilber Hidaka
Mario Pacheco, 80 anos, o mais antigo funcionário da Romi, se arrepende de não ter uma Isetta
Muito antes de Smarts, Minis e afins, a Romi já era um carro de pequenas dimensões feito para centros urbanos. A marca bem poderia aproveitar esse conceito e voltar a produzi-lo. Mas para Eugênio Chit, eles perderam a oportunidade. Hoje, a maioria das montadoras já tem fábrica no Brasil e não há vantagem apostar na Romi. “A empresa tem de ter um foco. E o nosso são peças automotivas”, declara, apontando que a história da fábrica já foi escrita.
Um dos autores dessa história é o seu funcionário mais antigo. Mario Pacheco, 80 anos, participou do lançamento da primeira unidade. Hoje, ele lamenta por não ter uma Romi-Isetta, mas lembra com muito carinho sua vida trabalhando na empresa. “Sou amigo da família, dos três filhos do Carlos, passei a vida aqui. É muito emocionante ter participado da história do país”.
Carreata histórica
A preparação para a carreata foi tensa. Muitos proprietários ansiosos por colocarem suas relíquia nas ruas ou por temerem não chegar ao destino. Fui de passageira em uma Romi 1958, motor quatro tempos, a 20 km/h (o marcador vai até 60 km/h). Estávamos em segundo no comboio de 48 carros. O trajeto foi divertidíssimo, com pessoas acenando, Romis parados pelo caminho, muito barulho e fumaça. Mas chegamos por último. O motor esquentou por duas vezes e, na segunda, tivemos que empurrar até a linha de chegada. Mas nada disso atrapalhou a experiência de passar o dia em um passeio com um marco histórico do Brasil.

Fonte: Autonews

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