Sem programa definido para o setor, plano de incentivos ou tratamento fiscal diferenciado, o Brasil está ficando para trás na corrida pelo carro elétrico. “Enquanto os outros países estão mais avançados nesse segmento de mercado, aqui se mantém uma barreira fiscal enorme para esses veículos, representada pela elevada alíquota do IPI. O governo brasileiro está segregando o carro elétrico, enquanto a Argentina focou sua ação em dois pontos vitais de seu desenvolvimento, que são a fabricação dos veículos e a produção das baterias”, afirma Jayme Buarque de Hollanda, diretor da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).
Segundo o executivo, o Brasil simplesmente não tem política para o setor e ainda está muito atrasado nesse sentido, mas ainda é possível recuperar o tempo perdido. “Já temos alguns fabricantes, como Ford, Chevrolet, Nissan, Renault, Toyota, Mitsubishi e outros fazendo demonstrações ou comercializando modelos híbridos. Agora, é só uma questão de mercado.” O preço dos modelos ainda é elevado para o consumidor, mas a tendência é haver um barateamento dessa tecnologia com a produção em alta escala e, consequentemente, a redução nos custos de produção, como aconteceu com outros produtos eletrônicos.
Na opinião do consultor da área de automóveis Paulo Garbossa, Brasil e Argentina praticam políticas de mercado diferentes. “Lá, não há uma posição definida quanto à matriz de combustíveis, tanto é que utilizam um grande número de carros abastecidos com diesel. Já o Brasil está mais focado em combustíveis renováveis, como o biodiesel e o etanol.” Segundo ele, aqui fica complicado contradizer investimentos feitos há alguns anos e começar a incentivar uma nova proposta de veículo.
“Para desenvolver e implantar uma tecnologia como a dos carros elétricos há a necessidade de se criar uma grande infraestrutura. Algo muito mais fácil para os argentinos, pelo tamanho territorial, número de população etc. O Brasil é um país continental, portanto qualquer alteração nas políticas essenciais demanda estratégias de longo prazo.”
Falta interesse do governo brasileiro
O desenvolvimento de tecnologia de veículos elétricos enfrenta um mercado desafiador no Brasil, segundo informou o presidente mundial do grupo Renault-Nissan Carlos Ghosn, em recente entrevista à agência Dow Jones Newswires. O executivo citou as descobertas recentes de campos de petróleo do Pré-Sal, o uso intensivo de biocombustíveis e a falta de apoio do governo como as grandes barreiras ao futuro programa do carro elétrico no país.
Segundo Ghosn, a pressão para aprovar a nova tecnologia não é tão forte no Brasil, que está atualmente interessado em desenvolver campos de petróleo no mar territorial, que podem transformar o país em um dos principais produtores e exportadores de óleo bruto. Além disso, o país é o maior produtor mundial de etanol de cana, com mais de 80% da produção de carros novos voltada para o uso do biocombustível com baixo índice de poluição.
"A atratividade do Brasil como um mercado para carros elétricos vai depender da vontade do governo brasileiro para apoiar o consumidor na compra desses veículos. Enquanto não houver nenhuma iniciativa clara pelo governo de apoiar o desenvolvimento de carros elétricos no país, eu acho que isso não vai acontecer", afirmou.
Atualmente, existem 3 milhões desses veículos circulando pelo mundo. No Japão, eles representam a significativa parcela de 11% da frota de carros novos e, nos Estados Unidos, cerca de 2,5%, segundo a Associação Brasileira de Veículo Elétrico (ABVE). A previsão é que até 2020 de 10% a 15% da produção automotiva mundial seja de veículos verdes, de acordo com Paulo Sérgio Kakinoff, presidente da Audi para o mercado brasileiro
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