Hyundai muda cidade no interior de São Paulo
Conhecemos as futuras instalações da montadora em Piracicaba, onde coreanos e brasileiros vivem choque cultural
Por Ricardo Sant'Anna // Fotos de Oswaldo Palermo
Obras aceleradas em terreno de 1,390 milhão de metros quadrados, de onde sairão 150 mil carros por ano.
É exagero dizer que se encontra um coreano a cada esquina, mas não é difícil vê-los por lá. O taxista Paulo Toledo relata o comportamento dos novos vizinhos: “Faço muitas corridas para eles, que se esforçam para falar português e elogiam as mulheres brasileiras”. Recentemente, ele trocou seu VW Santana por um Kia Sephia 1995 pela “boa fama dos carros coreanos”. Mas nem todos os piracicabanos acham os imigrantes simpáticos.
Carros da Hyundai estão espalhados pela cidade e executivos da marca rodam apena com Tucson
Dois restaurantes coreanos foram abertos na cidade depois de anúncio da fábrica da Hyundai
Barjas Negri, prefeito de Piracicaba (SP)
Segundo a prefeitura, apenas 50 famílias de coreanos residem em Piracicaba e está descartada uma cidade ao redor da linha de montagem, como novos hospitais, colégios e muitos imigrantes. “Isso é uma lenda que alguém plantou na mídia de forma mentirosa”, esbraveja o prefeito Barjas Negri. Fontes não oficiais, porém, dão conta de 300 coreanos na cidade, número que deve aumentar até 2012, quando as instalações ficarão prontas. “O que a gente ouve é que muitos largaram tudo na Coreia e vieram se arriscar por aqui no comércio”, conta uma senhora no ponto de ônibus. E a maioria deles está ligada à Hyundai, sejam funcionários do grupo, da construtora responsável pelo projeto e até aventureiros.
Somente a linha de montagem da Hyundai abrirá 4 mil postos de trabalho, sendo 95% destinados aos brasileiros. Haverá oito fornecedores coreanos em Piracicaba. A cidade ganhou este ano dois restaurantes coreanos: Lago Azul e Ará. O primeiro estava fechado os dois dias em que visitei a cidade, e no segundo a comunicação não foi possível. Segundo um garçom do restaurante vizinho, “as pessoas entram aqui desesperadas, pois eles não conseguem vender um copo de água. Não entendem nada de português”.
Cerimônia na fábrica trouxe jornalistas da Coreia e contou com a participação do governador Geraldo Alckmin
Juliana Bonetti Valério, coordenadora do colégio, conta como é o relacionamento com os filhos de funcionários da Hyundai ou ligados à montadora. “Eles buscam excelência no ensino e são muito aplicados. Mas os pais dizem que as crianças têm domínio do inglês e não é isso que encontramos. Todos se adaptaram muito bem e o mais novo já faz tanta bagunça quanto os brasileiros da idade dele”, revela Juliana, que ajuda as crianças até a escolher seus nomes. “Como é difícil pronunciar o nome coreano, eles escolhem algo parecido”, diz. A calmaria do interior misturada com o ritmo acelerado dos coreanos tem dado certo graças ao bom e velho calor humano brasileiro. Não importa se a cultura, a língua ou os hábitos são muito diferentes, aqui sempre haverá espaço para mais um. Ou melhor, para mais uns.
A estudante coreana Marina estranhou as mulheres de biquíni na TV; Juliana Bonetti ajuda crianças coreanas na adaptação ao Brasil
Com o compacto HB, Hyundai quer passar a Ford no Brasil Uma enorme tenda foi montada no centro do terreno de quase 1,4 milhão de metros quadrados para a cerimônia de lançamento da pedra fundamental das instalações da Hyundai. “O Brasil está se tornando uma das maiores potências econômicas através do crescimento estável e São Paulo é o coração dessa economia”, disse o vice-presidente da Hyundai, Jong-Woon Shin. Moong-Koon Chung, CEO do grupo, também era para estar presente. “Como a presidente Dilma não viria, ele abortou a viagem”, disse um funcionário.
Para construir a nova unidade, onde irá produzir 150 mil unidades do popular HB por ano, a Hyundai está investindo US$ 600 milhões. Antecipado nas projeções acima, o hatch que chega em novembro de 2012 terá motores 1.0 e 1.6 flex para enfrentar o Gol. Na mesma plataforma estão previstos um sedã e um aventureiro. “A ideia é vender 300 mil carros ao ano até 2013, sendo 150 mil produzidos aqui. Com isso, atingiremos 10% do mercado nacional e passaremos a Ford”, afirma Han Chang Hwan, vice-presidente da empresa para a América. Segundo a Hyundai, a parceria com o grupo Caoa, representante da marca no país, vai continuar. O importador afirma que o contrato vai até 2028.
Marlon Tadeu, camisa 10 do XV de Piracicaba: "A bola é uma linguagem universal, né? Os caras falam estranho, mas a gente se entende"
A Hyundai é fortemente ligada ao futebol, patrocinou as três últimas copas do mundo e também será grande parceira na edição do Brasil, em 2014, quando a empresa estará produzindo no país há mais de um ano. Na Coreia do Sul, o grupo mantém um time chamado Jeonbuk, que recentemente veio ao Brasil e fez um jogo-treino com o Palmeiras e um grande amistoso com o XV de Piracicaba, o time local. A partida terminou em 2 a 2, resultado bom para os dois lados.
Além disso, executivos da empresa já sinalizaram um futuro patrocínio à equipe, de olho em conquistar os piracicabanos. Marlon Tadeu, camisa 10 do Nhô-Quim, como é conhecido o time, atuou na partida e alega que não foi nada fácil enfrentar os coreanos. “Foi uma experiência única. Eles são muito disciplinados tecnicamente e não erram na marcação, correm muito”, conta. Foi difícil se entender no campo? “A bola é uma linguagem universal, né? Os caras falam estranho, mas a gente se entende”, diz o atleta, sorrindo
Fonte: Autoesporte
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